terça-feira, 29 de junho de 2010

1º Ensaio Fotográfico - Negritude ... Anastácia






Algumas considerações importantes:

Sou um fotógrafo sem recursos, não tenho estúdio e nem bons equipamentos. Tudo que construir na minha carreira teve a participação coletiva. Aproveitava quando meus amigos viajavam para pegar carona e realizar alguns registros na minha região. Minhas primeiras fotos foram feitas com uma pequena, compacta e simples Kodak, mas até hoje foram as mais premiadas e vendidas. Comecei a fotografar com 17 anos, meus recursos foram a bonança de luz e dos contrastes nas cores do Sertão brasileiro. A profissão de pintor me ajudou muito com as noções básicas de composição, enquadramento, profundidade de campo entre outros. Fotografia aqui no Sertão sempre foi vista como luxo; “coisa de gente rica” acesso só as de 3X4 para carteira de identidade e ou as dos “santinhos” depois da gente está morto. Tive a oportunidade de receber na minha casa fotógrafos austríacos, alemães, franceses, belga e nunca o prazer de receber um ou uma fotógrafa Sertaneja. Agora estou realizando um curso de fotografia digital básico na minha cidade e incentivando amigos á fotografar e á serem fotografados também. Quem sabe assim quando viajar e retorna ao meu torrão natal alguém bata a minha porta e me convida para um “tour” fotográfico.

1º Ensaio Fotográfico - Negritude
A modelo deste ensaio aos 12 anos já foi minha aluna de pintura em tela, claro que já faz alguns anos. Na época fiz um estagio para uma escola do meu município e ensinava pintura para 20 crianças. Anastácia Patrícia uma delas cresceu e hoje é uma bela mulher, também uma linda modelo. Encontramos-nos novamente, agora ela como aluna de fotografia e modelo fotográfico. Neste ensaio tentamos aproveitar as oferendas da natureza para está arte. As texturas nos troncos das árvores e cactos; o marrom vibrante da argila queimada; o azul varonil do céu sertanejo e os latejantes raios do seu entardecer.
Anastácia Patrícia é uma pessoal extrovertida, simpaticíssima e sempre alegre. Do tempo que a conheço nunca a vi triste. Hoje tem 17 anos e se prepara para ingressar na universidade. Muito inteligente e criativa. Desde os tempos em que fazíamos pintura em tela. Sempre foi expressiva, cativante. Já participou de alguns concursos de beleza na região e foi a primeira negra vencedora da edição “Garota Tropical 2009”.
Este primeiro ensaio é apresentado com fotos originais e sem edição; o segundo será com fotos em Preto e Branco e o último com fotos editadas.



www.flickriver.com/photos/tags/franztagore/interesting/

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O Recomeço


PONTO DE VISTA


O recomeço é o ponto de partida
Dum começo para outro reinicio.
Digo isto dum ponto de vista
Do tempo que agora reconheço
Como caminho dos nossos delírios.
Percebendo um notável desnível
na embarcação que leva-nos
á um ponto de recomeço,
sabemos então dum inicio para
outros pontos de vista.
Considero próprio da mulher
o hábito do redirecionamento
dos seus rumos, e aplumamento
dos seus planos, um novo plano
para escapar do mesmo ponto.
Pronto nunca estaremos
Para enxergarmos os motes
Do outrem
que atravessa o mesmo plano.
Agora
nas águas que queremos navegar
há calmaria, brisa leve e doce,
quem me dera fosse neste momento
a partida
pro outro ponto que tenho em vista.




A TRANSA


Cobras mortas no caminho
Imã de pênis nas pernas
Sémem derramado na vagina
Resto de prazer e cópia
De romance rasgado, espalhado
Na peça da casa
Luz acesa na sala
Varanda vazia de vozes
Suor escorrendo nas costas
Seios redondos nas mãos
Beijos molhados de saliva
Néctar, Mel, vinho seco
Mamilos arrepiados
Tocados por dedos habilidosos
Beijo de língua no umbigo
Gritos baixos
Cama rangendo no chão
Movimento repetidamente solto
Entre um corpo e outro
Esquecimento do mundo.
Pelos pubianos que se roçam
Abarcamentos apertados
Unhas cravadas nas nádegas
Cheiro de sexo no quarto
Gozo despejado no rosto.




LUXURIA


As costas de cristal
Dos representantes do povo
São loucas ciladas
Aos que pelejam justiça
Há cobiça nos olhos
Nos órgãos dos gananciosos
Ossos quebrados nos bairros
Manipulados componentes da massa
Pontas de cigarro jogadas
na rua de baixo
Cartas de baralho escondidas
Wisk, vodka, cocaína,
Cheques cancelados, amantes
Encontros de gangsters
Palhaços romanos
Ordens de assassinatos
Campeonato de poker
Fins de semana no cassino
cachimbo de crack
Carros importados, velocidade
Adrenalina, strip-tease, bailarinas
Ouro, dólares e apartamentos
De luxo, homens e mulheres
Numa partida na noite de incerteza
Mesas verdes, luxuria – nobreza?




ESTRADA VAZIA


Uma vida por dentro
Que só sinto quando sento
Aquieto-me compenetrado
Afadigado e sem fôlego
Um fogo me queima
Qual leite da morte
Vinho tinto de amante
Grosseira voz de carrasco
Suicídio num penhasco
Palhaço com cara feia
Triste dia de chacina
Cocaína que corre nas veias
Dum talentoso empresário,
Mas, os talentosos são
Os primeiros a si pintarem
Quando o apito misterioso
Os chama, seus espíritos
inflamam-se, se derramam
No corpo desnudo
Um barulho miúdo faz terror
No ouvido do cético cego.
Uma vida por perto
Qual minh'alma ignora
É história de estrada vazia
Vazo inquebrantável da memória.




DESAFINAMENTO


Pelo de gato na cama
escama de peixe no prato
veneno de rato no queijo
beijo na boceta doce
dor de cabeça na testa
festa do touro no curral
varal de cordel no mato
tinta na tela branca
lama de massapê no calcanhar
dedo fino de menino
peito redondo de Judite
barriga verde de Felipe
tons de cinza no céu
Corel draw no not book
Roupa estendida na cerca da roça
farofa de galinha no bogó
rapadura raspada no fubá
quipá de ema no terreiro
galo cantando na madrugada
feijão, arroz e umbuzada
corda grossa na cacimba
banho de piscina na lagoa
frase escrita num papel bonito
cartão postal da caatinga
carne de sol assada no sal




DOR DE CABEÇA


Lençóis de chama
Que me queimam
Doem os meus ossos contritos
E os meus olhos
Abertos
São apertados pelas pálpebras
Da minha vista
O câncer
Pesadelo vivo
Um pensamento sonâmbulo
Vivo morto na escuridão
Amor
Viagem à Europa
Conflitos na imigração
Resto de sono
Que se estabelece
Nesta peça da residência
Contas, roupas, documentos...
Páginas abertas
Dum livro sem fim.
I don't have culture?
Os donos do poder me perseguem
Ameaçam-me
Mas, ainda estou vivo
E as portas do mundo se abrem.




CAFÉ & QUEIJO


Dentro de mim há fome
Que não se sacia
Com feijão e carne,
Roncam minhas tripas
E não tenho o que comer.
Devoro os livros, os textos,
Todas as minhas fotografias
E por último meus olhos.
A saudade é fome
Que me consome vagarosamente,
E eu o que posso fazer?
Esperar a hora da viagem,
Que tenho certa
Para o outono deste ano.
Reencontrarei minha outra
Parte
Solta nos dias frios de Viena.
Tenho fome e ainda queijo,
Café e farinha de mandioca,
Água doce para esta noite.
Amanhã não sei,
Ter-se-ei fome
E mantimentos em casa?






AEROPORTO


Vai-se o meu amor
Voar de volta ao Danúbio.
E eu, aonde vou agora?
Últimos beijos antes da partida
E meu coração ficou apertado.
Não há muito que fazer,
Vejo-a andar em direção
A sala de embarque,
E cada vez mais distante
Ela fica de mim.
Agora sei que é verdade.
Um último vulto surge,
Em meio às outras pessoas.
Vai querida,
E me leva em teu coração.
Por que você está no meu,
Agora em forma de saudade,
Só seu cheiro que fica.
Logo estará na Frankfurt,
No frio dos Alpes da Áustria.
E quem estará com você?
Para te aquecer?
Mas, é preciso que soframos,
E que a ardente lentidão do tempo
Coloque-nos em seu colo.




BATATAS


Batatas ao fogo
que rangem seus dentes,
n'água que ferve e borbulha,
Bulbos cortados e salgados
A gosto de quem tem fome,
Em nome da ansiedade que
Come-me pouco, a pouco,
E estou louco pra deitar,
dormi.
Quem consegue cochilar,
Com uma pedra na consciência?
Isto a ciência ainda não testou.
E o resto é morbidez
Sala sem anexo duma peça só,
Paradigma, esforço complexo
Dum relance de ardor.
E cantam os grilos
incansavelmente,
Ao lado o mesmo som de ontem:
Do padeiro, do lenhador que corta
A biomassa, que na manhã
Vira fumaça e aça à massa do pão,
E a gente levanta cedinho,
Prepara café, boceja já de pé
E come o que sobrou da noite.




ILUSÃO


Debaixo ou por cima das estrelas?
Onde estou agora?
São tantas as estrelas desta noite
Escura que me cobre,
E brilham cintilantes,
Longínquas da minha
Vista deficiente.
No cinturão de óriom
Namoram dois jovens,
E sorriem pra mim,
Quando andei com ela
Nestas terras lhe falei
Do meu amor pelas estrelas.
Combinamos de vê-las juntos,
E vimos, mas fizemos amor,
Mais do que a admiramos.
No céu também vejo fantasmas
Que me perseguem
De dia e na noite, nesta noite.
Ilusão. Tudo não passa de ilusão.
Os meus olhos ardem
De tanta curiosidade,
E o meu coração bate forte,
Porque sei que sou pequeno,
Poeira solta no espaço.




OBSÉQUIO


E continuo na mesmice de querer
escrever as coisas que penso,
há um tino obscuro, do tipo Marcelo Gama:
“Desconfio que estou ficando louco...
tanta coisa me passa na cabeça,
que se senso me resta é já bem pouco.”
Mesmo assim, sinto-me forte
Ao ponto de assegurar verdades
Em obséquio ao apego.
Quem me trás amor ao peito, de longe,
talvez não tenha nome, só fome(?)
E assim vou chamar de Idalina
a quem amo demais.
E sou bobo de tentar até esquecer
as risadas dadas enquanto
estávamos juntos de nós,
do apetite que tens por revolução
que chega a esquecer da sua vida
apenas por pensares dos 'amigos'
e continuo a julgar os que também
julgam-me.
Faço então poderoso o reverso
dos remorsos versos da distância.
Escrevo-os porque a mim restou
Apenas os pés de suas fotografias.




BRASIL


Antes que descanse o meu corpo
Nas pedras de cal duma catacumba,
Andarei este meu Brasil
Pelos caminhos que me queiram.
Já tive com índios,
Com jagunços sertanejos,
Com os caboclos marajoaras,
E visitei descendentes dos orientais,
Nas praças das capitais
Tonteie-me admirado
Pelas milhares de cabeças
Passando n'minha frente.
Gente de toda cor,
Altos, baixos, morenos,
Brancas, bonitas, morenas
Nas praias de Salvador.
Quiçá sejam bentas
As guloseimas brasileiras
Por serem tão gostosas.
Brasil de tanta natureza,
Continental massa de terra
Que tanto quero bem:
Ao nosso povo hospitaleiro,
E de novo deveria nascer
Num desses torrões abençoados.




PASSAPORT


GLOBALIZAÇÃO!
Exclusão dos migrantes,
Que desejam intercambiar
Seus talentos e escritos.
Divisora de águas e de amores,
Que apenas querem
Viver sua ilusão.
Licença para entrar,
Pouco tempo
Pra ficar e logo sair,
Sem atenção aos que
Pelejam experimentar,
Ao menos provar,
Da tropicalidade
Do nosso Brasil.
Outra vez ela tem de sair,
E eu vou ter de esperar,
Ou segui-la, sem saber,
Se posso adentrar a sua casa.
' Identidade, Passaporte,
Seguro de saúde de € 30.000,00
Conta bancaria $$$$$$$$$...
Documentos, documentos...'
E vamos loucos, inquietos,
longe um do outro.




MENTIRAS


As cartas enviadas a Europa
Foram escritas em tempos
de calor
Senão fosse a 'crise'
Que os mentirosos propagam,
Difamando os entendidos
As cartas teriam chegado
a sua dona.
O que posso fazer,
Se as cartas têm pés,
E a mentira tem asas?
Agora a quero por perto
Suas pernas têm saudades do meu pênis
Que despejou sêmen
No seu sexo doce.
Mas as cartas
Que não chegam a sua dona,
Onde ficam estas correspondências,
Em que digo as minhas verdades?
Agora, envio outra carta
Aquela mulher que me espera,
Mas, não estou seguro
do destino das minhas palavras
talvez jogar garrafas
ao mar seja uma opção melhor.




VÍBORAS


Atuantes nas farsas culturais
Nos carnavais de suas vaidades,
Brilhosos olhos de estupidez,
Fanáticas víboras
Seguidoras do predador
de sonhos.
Maus intencionados seres
Que despejam o seu veneno
Nos cantos desta peça,
Não peça que parem
Porque são incontroláveis.
Às águas já estão divididas
Entre as paredes frágeis
Deste rio que corre,
Já não há tempo de resgatá-las
As moças sujas de lama,
Presas fáceis dos cruéis.
Latem, não falam,
São rostos enrugados
Cobertos de química,
Não deixam o buraco
Das suas bucetas sossegados,
Esfregam-se nos machos,
Um a um até o gozo
Víboras da cultura do nojo.




DOMINGO


Hoje cheguei de Salvador
Logo de manhãzinha,
Procurei-te no quarto
e não te encontrei.
E nos pratos sujos
Fui lavar minha saudade
Com as lagrimas e soluços.
Não te encontro em casa,
Nem na rua, neste domingo.
Logo hoje, o céu ficou escuro,
Chove chuviscos de tristeza,
E cantam poucos pássaros.
Domingo acinzento,
Ouço a Tracy Chapman,
Que canta 'behind the wall'
Nas nossas viagens
Sempre a ouvíamos
E cadê você que não está aqui?
Só é o primeiro dia
Ainda virão outros,
E terei de suportar
Sua ausência baby.
Chorar não vai lhe trazer
De volta aos meus braços,
Então te lembrarei em meus sonhos.




OS OLHOS


Pelejam continuarem abertos
Quando as pálpebras pestanejam,
Quando meus dedos se dobram
E esticam-se sobre o teclado
Desta maquina moderna,
E tento fixar ereta
Minha coluna vertebral,
Mas, não me há animo,
Canso-me de me reposicionar.
Coço os olhos com os dedos
Sujos da poeira
Das teclas imundas
As quais nunca higienizei.
Um café,
um suco de maracujá,
um resto de noite pela frente,
num quente quarto de casa.
Selo os meus últimos pensamentos
Antes que vá me repousar
Nos lençóis também sujos,
Estes do pó
Que o vento trouxe de longe.
Assim vêem os meus olhos
As imundices dos meus hábitos,
Nos dias, nas noites.




O BLOG


Variadas fontes e cores
Dum texto num blog
Livro virtual a ser lido
Durante um tempo e outro
Novidade na literatura
Que se alterna
E se inova de formato
O impresso ainda é formal
E se integra com o digital
Os leitores são de longe
E bem diferentes
O acesso na rede da obra
É feito doutro lugar
Donde o sol pende e demora
Pode-se vender sonhos, utopias
Versos, contos, poesia.
Improvisar comenta as criações
E publicar imagens, ilusões
Atualizar os conteúdos
Visualizar bem miúdo
As faces dos novos amigos.
E lançar na rede, pegar peixe
Leitor que esta em extinção.
Lembrar fatos da história
Conservar a memória e a afeição.




A CHUVA


Moro num semi deserto
Que quase nunca chove.
Hoje por aqui choveu
E refrescou os ânimos
Dum poeta triste.
Um banho de chuva me bastou
Para tirar a poeira da solidão
Que me assola,
E o tempo que me amola,
Deixou uma brecha de luz
No meu caminho tortuoso.
Choveu esperança
Para um homem de fé,
E me animou
A chuva desta tarde de outubro.
Alguns instantes de alegria
E ninguém do meu lado
Para compartir de tal emoção.
Nestes primeiros dias, só,
Conversarei com os fantasmas
Duma jovem que há pouco
Esteve aqui, justo nesta peça,
Sorrindo e cantando,
Colorindo as paredes,
Que agora são pálidas.




AMANTES


Cérebro enfermo
Do Ghandi índiobrasileiro
Gomo de laranja podre
Notórios dilemas a se tratar
Batata doce no fim do ano
Pulgas retalhos de pano
Da sua camisola rasgada
Seios expostos, prensados
Na minha boca
Voz roca de gemidos prazeres
Cavidades contorcidas
Orelhas babadas, costas
Suadas.
Flash de fotografias,
Tons vermelhos da noite
Dos amantes inquietos
Na peça que prega de pressa
Obstinado Eros
Cheiro de lama seca
Cordões de cabelos amarrados
Fardos de prazer
Sem dono.
Beirada de boca na boceta
Língua, beijo ébrio momento
De loucos egocêntricos.




O TELEFONEMA


Ondas de som enfeitadas
Com a maciez da sua voz,
E horas vão-se ao telefone,
Ouvindo-te, e a teus sorrisos,
Com os olhos cheios de lágrimas
Mas, não choro
Espero que a emoção
Vá embora para as estrelas,
E a lua pende no céu
Ao longe dos teus olhos,
E te mando uma estrela,
Pequenina estrelinha,
Para pousar afora da tua janela.
No mesmo telefonema
Excito-me, inibo-me,
E te quero aqui por perto.
Só um telefonema,
Mas, nele digo que te amo!
E minha vida é feliz,
Por ter-te comigo!
Logo estaremos juntos
Nas margens do Danúbio.
Os orelhões serão lembranças
De fumaça da saudade
Que sempre me perturba.




CARTAS DE AMOR


Lábios ressequidos pelo vento
Esquecidos numa boca
Que há muito foi beijada,
Enjôo das mesmas tolices
De se viver um amor de longe,
A procura por um corpo
Que não se encontra fácil
E faces desconjuntadas
Separadas por dúvidas.
Bebidas alcoólicas ingeridas,
Ópio e nicotina,
Desejo de revolução e cafés
Antigas mágoas guardadas.
Águas levadas no solo,
Sal na terra enferma,
Pés de pêra, frutas secas,
Uvas murchas, maças pecas.
Ordem de despejo
E um sossego na noite.
São dias frientos
Vasos de sémem congelado
Hierarquias, notícias tristes,
Ramos perdidos no mar,
Ares de flores violetas
Supostas cartas de amor.




NUM MOMENTO


A música que escuto dum pianista
Austríaco, dum monstro artista
Já morto Mozart
Devora-me as ouças sanada
Sonata a minh'alma se deleita
Na cama do conforto
Ao ouvido do espírito
Empolgo-me aos poucos
E aos trancos tento me livrar
Das afinadas correntes deste som
Mas, como fumaça dum café
Passando na fervura
há metal, ouro, diamante.
É estrondeante.
Maléfico? Benéfico!
Entra música por meus poros
Como espinhos afiados,
Agulhas novas
Como o sal na carne enferma.
E chego a esquecer-se do barulho
Lá fora, do vago do mundo,
Do latejar da ventania
Nos ossos dos solitários
Homens sem afeição, sem ouvidos
num momento de tanta dedicação.




OUTRAS


Mulheres brasileiras, índias
Carmelitas e Tauanas.
Vou procurar uma delas para viver
Por que me parece sábio
Está montado nas cadeiras
Mais próximas de mim.
Quais vão entender meus versos,
Senão as que falam minha língua?
E de língua em língua
Posso passar procurando
Uma que pense mais parecido.
Estou estarrecido com estas coisas
das européias.
Que não decidem o que querem
E nem o que pensam
Para nós.
Há outra que me quer outra mulher
Também jovem e menos complicada
Do que a que me come agora
Mas, vou esperar e ficar com a de bem longe.
Tenho toda a paciência,
Que precise enquanto estamos
Parceiros, companheiros.
As que me querem na cama
as outras mulheres, são vontades.




VENTO NA JANELA


O frio da solidão
Entra pela janela,
E não tenho você
Para me agasalhar,
Nem na cama logo mais
À noite,
Nem na noite d'outro dia
Que virá.
Apenas o fantasma
Dum vulto colorido
Que transpassa
As paredes desta casa.
E do lado de fora da janela
Um céu que outrora
Era azul,
Mas que agora chora
E tem cor cinza,
E sem rima
As estrofes andam a esmo
E nem eu mesmo sei
Donde pisar.
Rastejo os lugares
Por onde nos amamos
E sem saber onde você estar
Procuro-te em qualquer parte.


















II Parte - Lamentos

















LAMENTO


Até que tento
escrever versos de contento
mas, há escuridão que encobre
a alegria dentro de mim
me esforço no intuito
de manter-me em boas ondas
duma energia positiva,
não desta fatia, doutra parte
dum gomo de laranja podre.
Caminhos difusos no cinza
indefensos por seus gestos
de intranqüilidade.
Sombreados pensamentos.
Lamento não escrever boa poesia;
Não encantar corações
Falando de amores;
Lamento estar doente,
Perto da morte, isolado do mundo.
Envolvi as cores dos quadros,
consumi as rimas nos versos
e perdi a serenidade
só me resta a fotografia,
onde paraliso sinais contentes
dos que tem algo para sorri
isto já perdi por desatento, lamento.




A PROCURA


Espero que nos dias de amargura
Saiba ser ponderado, tolerante
Pois, as suas palavras já ecoaram
Maldosamente nos meus ouvidos.
Tenho a paciência de uma onça,
Sou descansado e manso
Mas, na hora do reboliço
Mostro-me furioso
Sem cautela, sem controle
Ou arrependimento,
Desvairado, orgulhoso.
Procuro o equilíbrio
Nas pedras que tenho nas mãos,
E de mão em mão passamos
Num julgamento pré-intencionado,
Somos avaliados por quem
Procura o defeito nos outros
E se esquece de enxergar os seus.
Este feio feito de bisbilhotar
As residências alheias
É prato cheio para os insensatos.
Mas, a procura por sensatez
Em certas ocasiões se resume num
Martírio de 'si' próprio e do outrem,
Ontem foram eles e da próxima vez?




CÂNCER


Dominado o homem agora chora,
Já secam suas lágrimas legítimas,
Tem dor
E ardor na sua garganta
E são tantas as corrosões,
Que escorre coágulos
Como salmoura de carne bovina,
Poucos dias de vida
Restam-lhe, oh bom homem.
O carcinoma te devora vivo
E toma-te pelo braço
E te leva para a morte,
Tu és forte, e ainda resiste,
Magricelo, quase sem forças,
Andeja entre os caminhos
Mais incômodos.
Está ferido homem,
E para onde vai?
Não importa aonde vá,
Em sua execrada sombra
Rasteja um ferimento,
Um escorrimento de sangue,
A doença irá contigo
E te absorverá,
Ate que caia e faleça.




FELIZ?


Não estou feliz
pela falta que você me faz
e por tantas coisas que podemos,
mas não fazemos unidos.
Já faz um ano que convivemos
ora juntos, ora separados
em outros continentes
ameaçados pelo senhor TEMPO.
Não poderia estar feliz, se a mulher
que amo distancia-se de mim.
E vai-se escorrendo das minhas mãos
como a água que lavo meu rosto
nas manhãs, quando percebo
que estou só.
Grrrrrrrrrriiiiiiiiiiiiiiitttttttttooooooo!
Há instintos dentro de mim
que desafiam-me a desistir de VOCÊ.
Que pena, que apenas estão
Fortalecendo-me, e cresço
Como as palmeiras deste Brasil tropical.
E logo vou olhar nos olhos seus
e lhe pergunta se me amas?
Se me queres por perto?
Não vou esperar suas dúvidas
amadurecerem e se tornarem maças.




DESPEDIDA


Foi-se mais um dos meus amigos
Desta vez meu irmão Sandoval,
Foi-se e deixou-me aqui triste,
Em prantos e soluços.
Não tenho tantos agora
Para me dar o luxo de suportar
A sua partida.
Porque tiram os meus amigos?
Com quem irei conversar?
Foi ele quem me disse da política
E que na vida as injustiças
Devem ser combatidas,
E num combate devemos ser práticos
Aprendi com meu mano Sandoval
O que sou hoje, um socialista,
Defensor das classes menos favorecidas,
Um poeta que tem orgulho do que é,
Um ambientalista, um humanista,
E todos os 'istas' que sou o devo.
Foi pela sigla partidária que me admitiu,
As primeiras viagens da minha vida,
Os primeiros contatos com o mundo lá fora,
E dentro de mim estão guardadas
A sete chaves nossas conversas revolucionárias,
E os planos que fizemos juntos, pro mundo.




DESESPERO


Tenho um tio à beira da morte,
ele tem um câncer avançado,
que agora rói sua goela,
não é romance é caso sério e real,
outro hoje tive de tirar da lama,
bêbado, jogado para as cobras,
a mulher que amo distancia-se
a cada dia que vivo, e não sei mais
o que ela quer(?)
já um ano que não trabalho,
digo, que não tenho uma função
na armadilha desta sociedade,
terei agora que ir a Europa
para salvar nosso amor,
sem muito dinheiro, sem bolsos.
Faz quatro anos que não assisto
televisão.
Mas, ontem dei uma espiadela
Na novela da Globo
E o jogo é brutal, me fez mal
Um tanto que não sei medir.
Por hora, só escrevo, registrando
Estes versos horríveis
Num papel que me suporta,
O único que me entende.




GAIOLA DO MUNDO


Os pingos de chuva amargos
Chuviscou meu corpo desequilibrado
E entre os becos e botecos
Ando a esmo como um Pinóquio
Desconjuntado, mentiroso.
Toda amargura depois da chuva
Resfria meu corpanzil de grilo
É o que sou agora.
Entro na casa de um amigo
E mitigo um quente café
Despejado numa xícara com asa
Ouso ficar em silêncio
E mantenho-me vivo
Arredio de qualquer sorte.
Inconfessável bravura
Súdito esmilingüido
Sem nome nem apelido.
Torno a porta de pé
Desta vez com mais disposição
Ignoro a presença dos meus
Abro a porta da frente
Atiro-me ao mundo
Gaiola que fico acoplado,
Sou preso no seu espaço
no seu estômago combustivo.




O DOENTE


Curtos fôlegos...
posso ouvir de onde estou
o esforço para se manter vivo
um ritmo de reações
sobre forte pressão dos seus órgãos
escorrimentos do câncer
que pingam no seu peito
entre a abertura da camisa.
cheiro de carne podre
pus ao redor de sua goela
vitimado, cabisbaixo, com fome,
seu rosto arruinado por dentes
afiados da doença.
que lhe consome vagarosamente
já são alguns meses passados
e a cada novo dia a velha certeza
da morte.
Agora conta suas experiências
conta o dinheiro que pagará
as contas da sua resistência.
anda corcunda, reclama
da falta de ar, da dor
no seu pescoço corroído,
já não ouve bem, enxerga útil
apenas com um olho - o doente




SONOLENTO


Travo batalha contra o sono,
Apóio-me nas pálpebras cansadas
Dum dia inteiro de aventura,
Dum dia de descobertas legitimas.
As velhas fotografias guardadas
Vieram átonas, a meu ver
São provas do quanto envelheci.
E não suporto está acordado
Nem sequer numa madrugada
E noutra estou fatigado.
Mas, a madrugada de ontem
Tonteou-me o espírito
E não deixou que meu corpo
repousa-se.
E ainda agora, teria disposição
Para enfrentar meus medos
E cedo da manhã sou outro
Homem, que incessantemente
Combate as energias negativas,
Sorri de alma lavada, pois,
Sabe que tem cumprido seu papel.
Poucos têm tempo de sobra
Para escrever sua fantasia,
Seus sentimentos de luta contra
A sonolenta morte da letargia.




CUECA TIRADA


Cascata de gente
Que desliza na lisa terra
Negra das cidades grandes
Aranhas céus desnudos
E pombos entre os viventes
Drágeas de ódio
Ingeridas nos centros das ruas
Hospitais de loucos
Hospícios de homens
Brenhas abertas dos imortais
Igrejas, escolas,
Falha na memória
Dum povo índiobrasileiro.
Rios de cérebros errantes
Córregos de andantes,
Ambulantes, religiosos,
Místicos, oportunistas.
Vários recintos fechados
Aos que não recebem honorários
Esses são excluídos do 'glamour'.
Há falta de amor
Parafusos soltos,
Cueca tirada,
Mulher abusada
E poeta fingidor.




O ESPELHO


O reflexo da minha face
Acomoda-se entre a moldura vermelha
Do espelho que está a minha frente,
E os olhos que duvidam da mesma imagem
Presumo que sejam os meus.
Dois olhos castanhos escuro,
O do lado direito maior, próprio
Detalhe de tamanho e normalidade.
O esquerdo menor esconde-se
Na cavidade profunda do meu crânio.
As sobrancelhas cheias
Têm cabelos negros de bem arranjados,
Acompanham-na pequenos rabiscos de barba
Que há três dias não faço.
Cabelos crescidos
Caracolados e volumosos.
Lábios tristes e quietos,
Cheios de vontade de beijar,
E a amada mulher sua dona
Longe.
Vejo este rosto parado
Na manhã dum dia nublado,
E lá fora a vida dos pardais
Que cantam desesperadamente
Canções aos poetas solitários.




AFAZERES


Escrever vinte livros
beber um gole de vinho
tinto, pendurar um quadro
na parede de barro,
desenhar os olhos da mulher,
fotografar as flores
duma outra perspectiva,
comprar um casaco
lê Neruda, despir-se
das vestes comunistas,
estender as mãos aos céus
pro largo vale do norte,
fazer café do forte, tomar
água, preencher formulário,
discutir salário, retornar
da utopia de Venus,
viajar à Viena, arrancar
um dente da boca, enviar
cartas à amante,
polemizar o lógico, andar
de porta em porta,
referir-se as leis naturais,
averiguar os jornais, beijar
a vagina, traduzir os textos,
arranhar o eixo do mundo.




AMIGAS


Onde estão minhas flores
Rosane, Adriana, Julia,
Pra onde foram elas?
A poetisa Paula, Elenice
Catiane, Larabel, Débora
Por onde pisam?
Vejo nas ruas deste lugar
As sombras femininas, batons
Tons de suas roupas coloridas.
Fernanda, Mércia, a pintora
Tâmara, Mara, a Boneca.
Cadê você Bruna?
A bruma de suas peles
Derramam-se nos cantos
Donde estivemos juntos.
Patrícia, Silvia, Tamires,
Tomara que voltem logo.
Bia, Leninha, Amanda
Toda amadas por mim,
Amigas do coração.
Irene, Marlene, poliana,
Jane, Juliana, Hebe,
Adriana, Jessica, Tauana,
Iris, Aline, Tayslaine, Elizangela
Liziane, Monica onde vivem?




AMIGOS


Quão belos foram os dias
Que estivemos juntos
André, Leandro, Evanildo,
Fernando, Aroldo, Sérgio,
Magricelos, brincalhões.
Meus irmãos do peito,
Vagner, Moisés, Rubens,
Ricardo, Ney, Henrique,
Júlio, Eduardo, Adailton,
Revolucionários, políticos,
Contritos entre si,
Sandoval, Lindomar, Valdo,
Nilo, Antonio, Maciel
Flavinho, Laudinei, Djean
Artistas, poetas, pensadores.
Meus parceiros de luta,
Foram-se embora, para
As cidades longe daqui.
Nas mesas de sinuca, nos bares,
Nos campos de futebol, no colégio,
No mato, nas praças e calçadas,
Passam vultos de vocês.
Gilmar, Fidel, Mark, Marcelo
Paulo, Emanuel, poetas, músicos
Mandem notícias.



















IIIª Parte – Trégua
















BOAS ENERGIAS


São águas novas que correm neste rio
Donde o meu barco faz sua travessia,
São dias de sol, de alegria, de certezas
Que trazem bons ventos, talentos
Oportuno lagos de tranqüilidade
paz de espírito.
Porém ainda porto a lamina
da justiça, a mesma que decepou
a cabeça da maldita fraude
dos donos do poder,
ainda esta suja do sangue
azul derramado em batalha.
Descanso dos combates turvos desta guerra
Que começou desde sempre
Na minha curta estadia neste mundo,
Mas, que já tem me provado do custo
Que temos de pagar ao assumir um posto
Deram-me uma patente, nesta guerra
desonesta
Donde uns usam armas mortais,
E outros as suas canetas, suas penas
diárias.
Hoje recebi reforço vindo de longe
Duma dama combatente, atrevida
- confiável.




CERTEZAS


Que te encontro no largo lago
Da minha imaginação,
Que te quero despida
Nos encontros e despedidas,
Descendo com água por minhas mãos,
Que te tenho nas fatigantes
Tardes de calor, e que calor,
Quando nossos corpos se encontram.
Que você é a mulher da minha vida
E vive a me desafiar, desafinando
Os ritmos da minha jornada.
Não me falta nada em você
Que não tenha ainda experimentado,
O suco do pecado e as luxurias
Da tua arte, as partes mais íntimas.
Certeza de ser o teu macho,
Futuro pai de seus filhos,
Filhote de fera solto,
Almoço no fogo a lenha,
Mantenha-se firme
Nas suas certezas,
Que a tua beleza vai te mostrar
Quantos te desejarão nua,
Mas, na nossa casa a luz da lua
Vem somente em nossos olhos.




CREPÚSCULO


O romper do sol poente
Que dura poucos minutos
E afunda-se na oposta parte
Do planeta que gira
E restam as tiras de laranja
O cheiro de flores
Pássaros planando no céu
Vapor quente da terra
Pequenas, belas estrelas
Apontam no mistério
Do espaço ocidental
O roxo azul acinzentado
Expressa o fim do dia
Ao lado leste do mundo
Andorinhas desfilam
Nos córregos dum rio
A rádio toca
As melodias gonzaguianas
As ramas dos paus
Ressuscitadas da caatinga
Emergem-se em brotos verdes,
As paredes da minha casa
enoitam nas trevas
Assovia uma cigarra no terreiro
E cheira o tempero do jantar.




TE AMO


Te amo, te amo, te amo,
Te amo, te amo, te amo,
Te amo, te amo, te amo,
Te amo, te amo, te amo,
Te amo, te amo, te amo,
Te amo, te amo, te amo,
Te amo, te amo, te amo,
Te amo, te amo, te amo,
Te amo, te amo, te amo,
Te amo, te amo, te amo,
Te amo, te amo, te amo,
Te amo, te amo, te amo,
Te amo, te amo, te amo,
Te amo, te amo, te amo,
Te amo, te amo, te amo,
Te amo, te amo, te amo,
Te amo, te amo, te amo,
Te amo, te amo, te amo,
Te amo, te amo, te amo,
Te amo, te amo, te amo,
Te amo, te amo, te amo,
Te amo, te amo, te amo,
Te amo, te amo, te amo,
Te amo, te amo, te amo,
Te amo, te amo, te amo?




PABLO NERUDA


Elegia - um pouco de tempo
Para entender a pretensão dos teus versos
Que perfuram intimamente minh'alma.
Um justo preço por tê-lo lido
As estrofes frias que trouxe da Rússia.
Há desengano que me ofende,
E me deixa desacreditar
Na poesia que me serve.
E tento enxergar seus passos calmos,
Sua doença palmo a palmo,
E ponho-me num mirante
A fitar o Crepusculario da tua vida,
Complexa e bem vivida.
O algoz da tua voz me fala
De liberdade,
Mas, não tenho tanta coragem
Quanto tu tevês poeta chileno.
Não sou pleno do que quero
Com está minha devassa fala
Que acusar-te de 'doente'
E ainda não encontrei a cura
Nem para meus pesadelos
Do mistério da vida,
Que dirá das tuas fortes palavras
Que corroem meu coração.




A VIAGEM


Estarei longe dos caminhos
Tortos deste meu sertão,
Porque não vou esperar que o tempo
Traga-a de volta para mim.
Não há quem me prenda,
Ou me impeça de buscá-la.
Cada dia longe dela
É uma eternidade.
Viajarei a Europa nestes dias,
Frankfurt, Viena ‘Örreschirt’
Onde ela estiver,
lá irei.
ontem o destino a levou de mim,
senti meu coração apertar,
mas não tinha nada
que pudesse fazer,
não poderia impedi-la.
Voou num boing da Condor,
e eu fiquei ao lado do mar
pela noite, sozinho.
Lindo mar,
livre
destas coisas
liberto da saudade
que tenho agora no meu peito.




O CONTATO


Luzes na cidade
Acesas, laminas de posses,
Poses dos prédios na plana
Superfície que beira o rio.
Tela cheia de cores
No cinema que fui hoje
E quando cheguei a casa
Tinha escondido meu computador
Para que não fosse pernoitar
Novamente
Escrevendo minhas 'loucuras'
Mas, a mina dos meus olhos
Deseja fielmente as palavras
E elas me vêm pela noite.
Nesta noite vou até outros mundos
Visitar meus amigos que estão em paz.
Faz pouco que não os esqueço
Um dos jovens é bom rapaz
Os contatos que fizemos
Foi parte da trégua
Estão em distantes léguas
Da nossa casa, da nossa terra
Mas, logo que visitá-los
vou convencê-los a nos conhecer.
A conhecer a minha morada.




NA MADRUGADA


Ando em paz pelas calçadas sombrias
É noite de lua cheia, não percebo que estou
Andando nesta cidade vazia
Já tarde da noite, tarde dos meus planos.
Alguns cães cruzam meu caminho
Ladram na escuridão dos becos.
Um casal se beija, estão parados na rua
Ele a puxa e beija-a lentamente
Como se fosse um perito no assunto.
Pela noite as árvores crescem
E os poetas perambulam, pernoitam
Na caçada das palavras, aproveitando
o silêncio.
Rajadas de vento rodeiam minha janela
Os grilos são figuras presentes
que em todos os anoiteceres zumbem,
e alguns sapos
estes são mais efusivos e perturbadores.
O lenhador prepara a comida do forno
Que logo mais assará os pães.
Vai-se a noite, já é madrugada
Vou deitar e organizar pensamentos.
Amanhã o dia cheio, leituras e mais leituras,
e um pouco de descanso,
na sexta si vivo estiver escreverei mais um livro.
é



ARTE


Depois da batalha
atribuída as diferenças culturais
aos ramais dos meus pensamentos
que cruzam-se, amarram-se, contorcem-se
estou de mãos atadas, parado
neste campo de combate.
Até quando suportarei ficar quieto?
Se meus aforismos me pedem
que eu faça arte, que escreva, que lute,
que enfrente-os.
Tenho de esperar, ao menos um instante
Para finalizar a metamorfose, a estranheza
que me desgasta, me desequilibra.
Logo estarei pronto
para começará outra grande batalha
esta será mais intensa, sombria
e lutarei contra eles e contra mim mesmo,
São as fanfarras da vida
Que tocam a nossa porta e temos de ouvi-las
suportá-las.
Usarei esta pausa para energizar-me,
completar a carga das minhas baterias,
absorver hélio, oxigênio, clorofila.
Toda concentração, todas as minhas forças
Estarão reunidas, logo, e cedo lutarei.




MERO POEMA


Pincéis parados e vasos vazios
Livros, páginas marcadas e versos
No corredor da casa que moro,
Cobertores estendidos, letras
Desorganizadas na agenda
Cartas de amante
Tesouras, jornais e janela
Aberta.
Telas prontas, cartazes e panos
Esquemas de cores, café e pratos
sujos na cozinha.
Lá fora cantam os pardais
Riem os rivais que passam
Nas ruas calçadas de pedras
E de lages graníticas.
Uma rede posta na sala
Onde há pouco lia
As entrelinhas de Neruda
E me refazia das noites perdidas.
O gato que vez ou outra me visita
Deitado ao pé da mesa
belisca-me.
Mais calma minha cabeça agora
pensa,
e compõe este mero poema.




PRAZER


As tuas mãos vagabundas
Andaram me dando prazer nesta noite
Foram armadas ciladas e cético amei-te
Gozamos duas vezes juntos
Como dois animais acasalados.
E morremos deitados na cama
Dois amantes nus,
Agradados pela fúria
Da carne umedecida dos sexos,
E sem sono, olhamo-nos imaginando
O que se passa
Na mente que a frente cala-se,
Da voz que há pouco gemia.
O peito ainda palpita sangue
Do coração para as veias
Seu rosto rosado, suado,
Sujo da saliva bucal, genital
das loucuras
que fizemos juntos, amando-nos.
Satisfação em tê-la tido
nos meus braços
e do seu sorriso que não deixou dúvida
do sucesso que tivemos
no malabarismo que fizemos
com nossos corpos despidos.




FERIMENTOS


Ontem atentaram contra
Minha vida
Ameaçaram-me de morte
Mas, ainda não estou pronto para a vida
Pra mim, morte é vida
E a vida é um percurso da morte.
Ainda tenho de amadurecer e procriar
Para que meus frutos tenham sentido
E germinem resultados dos meus versos.
Devo manter-me longe destas ameaças
Carapaças são de gente sem nome
Que não expõem seus perfis,
Escondem-se, são traiçoeiros.
ei de morrer de amor ou de fome
e saberão que falei a verdade
sobre estes monstros do mundo
que me enojam
e aonde vou me abrigar, enquanto
não os combato?
Quem pode me acolher suprimir-me
De sangue?
Quem pode me asilar dentro de sua alma
num curto tempo que seja
e beijar-me, amar-me?
Quem pode tratar da minha dor cortante?




CANUDOS


Cânticos de libertação
Suprema labuta dos sertanejos,
Cantorias de lamentação, cantos errantes
No meio dum deserto
Que pouco chove cinzento e pedregoso.
As mulheres lavadeiras formam tiras de gente
Colorindo os caminhos do Semi Árido,
Em procissão de fé cantam suas lamentações
Choram o duro viver, choram o desprazer,
Há filhos que passam fome, numa terra sem nome
povo sem 'dono', deixada ao léu,
Nas terras nutridas do sangue
De vinte e cinco mil camponeses mortos,
Canudos Belo Monte, saga dos sertões
Aldeia dum povo heróico, de braços retumbantes
Diamante colorido do Brasil
Feito dos sonhos dos mais humildes
Dos sorrisos negros, do suor dos mulatos e índios,
todos povos brasileiros
porém separados pela raça determinante
dos donos do mundo.
Suas caatingas são testemunha do fato
Estarrecedor, da guerra caprichosa
Que assolou a nossa aldeia:
genocídio, massacre, opressão ao nosso arraial.




VIAGEM A EUROPA


Neste final de mês viajo a Europa.
Que me aguarda aquelas terras frientas
As mulheres brancas de olhos azuis?
Os cafés e vinhos, os rios e Alpes.
Que será de mim pobre Matuto
solto ao vento do hemisfério norte?
Será minha morte, será minha vida?
Estou indo aos milenares pilares
Da sociedade ocidental, aos campos
Dos grandes acontecimentos sociais,
Políticos e culturais do mundo europeu.
Estou de espírito desarmado
Aberto as proposições alheias
Atento aos novos pontos de vista,
Curioso por conhecer as tabernas,
As belas raparigas, os camponeses
Nos seus pomares,
Passear às margens do Danúbio,
Escolher uma maça doce e morde-la,
Fala ao povo daquele lugar
Minhas aventuras brasileiras,
Falar da nossa paixão pela alegria,
Dizer das nossas fortalezas imateriais.
Vou aprender seus idiomas
E retornarei a minha terra poliglota.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Nas veredas do Sertão


O Artista Uauaense Robsson Rodriguess acaba de retornar da Austria, em viagem pela Europa o artista produziu vários trabalhos chegando a expor suas obras em duas exposições.

A última exposição foi realizada no europassal (salão da Europa) no Instituto Latino Americano na capital da Austria Viena. A exposição com 20 quadros do Artista Plástico Franz Tagore conhecido em Uauá por Robsson Rodriguess e da artista Idalina Pölzer seguirá aberta até 9 de junho do corrente ano. Além dos quadros 100 fotografias ligadas ao sertão brasileiro estiveram expostas até 9 deste mês. A exposição visou arrecadar recursos para o plantio de árvores na caatinga de Uauá. A vernissage da mesma aconteceu na quarta feira dia 10 de maio com a presença de centenas de pessoas.

Esta foi a segunda exposição do artista uauaense na Europa, em janeiro deste ano ele já havia exposto na cidade de Sittendorf Baixa Áustria. o sucesso da exposição foi confirmado com um convite por parte do LAI - Instituto Latino Americano para uma nova exposição fotografica sobre a Amazônia no próximo ano. Além do Apoio da Horizont 3000 e do LAI os Artistas Idalina Pölzer e Robsson Rodrigues (Franz Tagore) contaram com doações de amigos e empresários europeus.

Umbuzada.com – Informação em 1º lugar!

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terça-feira, 15 de junho de 2010

Mapa ilustrado do continente Africano - Copa do Mundo de Futebol 2010



A África é o terceiro continente mais extenso (atrás da Ásia e das Américas) com cerca de 30 milhões de quilômetros quadrados, cobrindo 20,3 % da área total da terra firme do planeta. É o segundo continente mais populoso da Terra (atrás da Ásia) com cerca de 900 milhões de pessoas, representando cerca de um sétimo da população do mundo, e 53 países independentes; Apresenta grande diversidade étnica, cultural e política. Nesse continente são visíveis as condições de pobreza, sendo o continente africano o mais pobre de todos; dos trinta países mais pobres do mundo (com mais problemas de subnutrição, analfabetismo, baixa expectativa de vida, etc.), pelo menos 21 são africanos. Apesar disso existem alguns poucos países com um padrão de vida razoável, assim não existe nenhum país realmente desenvolvido na África. O subdesenvolvimento, os conflitos entre povos e as enormes desigualdades sociais internas, são o resultado das grandes modificações introduzidas pelos colonizadores europeus.

Este mapa foi organizado com o objetivo de incentivar o público a conhecer melhor o continente africano. São 53 países recheados de pré-história, música, fé e a maior fauna de mamíferos do mundo. O berço da humanidade exposto num modelo de mapa ilustrado para download gratuito.

Estou criando uma biblioteca no meu bairro na cidade de Uauá. o bairro é tão carente quanto alguns na África. Se você quiser colaborar com a doação de um livro ou material bibliotecário meu endereço é:

Robson Rodrigues de Souza, Rua da Lagoa,
Centro de Uauá Bahia CEP: 48950-000

franztagore@gmail.com
Cel: +55 74 9995 0858

(para receber o arquivo deste mapa basta me contactar no flickrmail ou no email acima)

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